Deve Haver Algum Limite no Número de Contratações de Jogadores Estrangeiros?

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The Dresden Monarchs of the German Football League (Courtesy of Mike Lehn - Big M Pictures Pictures)

O Dresden Monarchs da Liga Alemã de Futebol Americano (Foto cedida por Mike Lehn – Big M Pictures)

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Por: Travis Brody
Traduzido por: Mariana Gomes

 

O New York Yankees, a mais bem sucedida equipe da história da Major League Baseball, e uma das mais valiosas franquias de esportes de todos os tempos, não só revolucionou o beisebol, mas todos os esportes profissionais. O New York Yankees, uma vez, passou por um período de dominação sem precedentes em que ganhou 11 World Series entre 1947 e 1962, e só não ganhou outros três por um jogo perdido. Esta época de dominação mudou o cenário do beisebol profissional.

Como eles fizeram isso? Foi simples – eles eram a franquia mais rica do mundo, portanto eles compraram e potencializaram os melhores jogadores disponíveis. Mickey Mantle, Roger Maris, Whitey Ford, Joe DiMaggio e Yogi Berra, todos fazem parte do Hall of Fame e jogaram para os Yankees durante esse tempo.

No entanto, começou a surgir um movimento interessante após a “era do domínio Yankees”: a inovação. As equipes começaram a pensar “fora da caixa” e desenvolveram sofisticados sistemas de aferição de novos talentos, fizeram um trabalho de treinar os jovens jogadores das menores ligas e criaram formas únicas de atrair alguns dos melhores jogadores a nível internacional.

Enquanto isso, a Major League Baseball começou a instituir métodos para manter um balanço competitivo sem precisar de proibir os melhores atletas da liga de jogar. Em 1947, Jackie Robinson se tornou o primeiro cidadão americano afro-descendente a jogar na Major League Baseball, quando ele serviu ao Brooklyn Dodgers, e em 1959 todas as equipes da liga eram formadas por jogadores de todas as cores. O Draft foi instituído na Major League Baseball em 1965 e permitiu que as equipes tivessem o mesmo acesso aos maiores talentos do mundo. Em 1968, a Central Scouting Bureau foi criada para ajudar no apoio às operações de prospecção preliminar de todas as equipes da Major League Baseball, que mais tarde evoluiu para a Major League Baseball Scouting Bureau, em 1974. Então, em 1994, a MLB começou a instituir uma redistribuição de receitas, ou seja, distribuir os rendimentos das maiores para as menores equipes do mercado. Por fim, em 2003, a liga instituiu o chamado “imposto de luxo” para as equipes. “Tecnicamente chamada de ‘Competitive Balance Tax’ (Taxa de Equilíbrio Competitivo), o ‘importo de luxo’ é uma punição que as grandes equipes do mercado recebem por gastar muito dinheiro. Enquanto a MLB não tem um teto salarial definido, o ‘imposto de luxo’ cobra as equipes com altas folhas de pagamento uma quantia considerável de dinheiro, dando motivos para as equipes quererem manter suas folhas de pagamento abaixo desse nível.” Equipes como New York Yankees, Los Angeles Dodgers, e Boston Red Sox não se importam em pagar essas taxas porque seus orçamentos são muito superiores a quaisquer ameaças desse ‘imposto de luxo’. As receitas desse imposto se destinam a financiar benefícios dos jogadores (50%), a Industry Growth Fund (25%), e o desenvolvimento do beisebol em países sem escolas com programas de ensino médio (25%). Hoje, o Yankees tem uma das duas maiores folhas de pagamento no campeonato e, desde 2000, venceu apenas uma World Series. A equipe com a maior folha de pagamento – o Los Angeles Dodgers – não ganha nenhuma desde 1988.

Então, por que falar sobre beisebol em um site dedicado ao crescimento do futebol americano? Porque há uma lição a ser aprendida aqui – há maneiras melhores de manter o equilíbrio competitivo sem inibir o crescimento do esporte. No caso da Major League Baseball, um longo período de soberania do Yankees gerou o ímpeto para mudar, estimulou a inovação e melhorou a eficiência do beisebol.

As ligas nacionais de futebol americano na Europa têm diferentes definições do que é ser considerado um “jogador importado”, no entanto, na maioria dos casos, o jogador importado é aquele sem o passaporte de um dos 28 países da União Europeia. Na Europa, quase todos os países instituíram o seu próprio limite no número de jogadores importados que cada equipe pode ter. Além disso, a maioria das ligas europeias impõe um limite de quantos desses jogadores um time pode ter ao mesmo tempo no campo. Como a maioria dos jogadores importados vem da América do Norte e estão, em média, com um nível de habilidade superior ao da média dos jogadores nativos, as federações nacionais optam por limitar esses jogadores como uma forma de manter um equilíbrio competitivo. Países, como o Reino Unido, fazem pior e proíbem o pagamento de todos os jogadores, determinando o estado amador do jogo dentro de seus países.

Há um debate deste tema em curso sobre o que é justo, quais são os valores e como as federações nacionais sentiram que esta é a maneira mais fácil de promover o equilíbrio competitivo em suas respectivas ligas. Sinceramente, o que fazem é ‘semi-equilibrar’ a competitividade uma vez que se limita o número de atletas de elite que você pode ter na sua equipe. Isto, geralmente, é ainda mais incentivado pelas equipes menores que lutam para competir contra as maiores em sua própria divisão.

No entanto, estas regras estão reconhecendo uma verdade muito simples: que nós somos preguiçosos demais para inovar. Nossas equipes e federações estão provando que preferem ser igualmente triviais a terem a chance de ser igualmente grandes. Ao invés de elevar nossas próprias equipes, estamos tentando trazer outras equipes para o nosso nível. Esta é a fórmula certa para garantir a continuação do amadorismo e é a única coisa que está impedindo o crescimento do futebol americano na Europa, sem dúvidas.

Então as pessoas perguntam: por que não estamos recebendo patrocinadores? Por que não temos tantos fãs em nossos jogos? Por que a mídia não nos leva tanto a sério? Bem, é porque nós não estamos nos levando a sério. Nós queremos competir pela participação do mercado com o futebol, o rugby, o basquete e o hóquei, mas não seremos capazes de superar ou mesmo igualar a esses esportes, uma vez que nós estamos impedindo o crescimento do jogo aqui na Europa.

Há quatro argumentos-padrão em favor do estabelecimento de quotas de importação. A seguir, contrapomos cada um.

1. “Quotas de importação ajudam a manter o equilíbrio competitivo”

Se quisermos afirmar que as quotas de importação incentivam o equilíbrio competitivo, podemos também afirmar que o oposto é verdadeiro: eliminar quotas de importação melhora o equilíbrio competitivo. Deixe-me dar um exemplo.

Antes da minha primeira temporada com o Brussels Bulls em 2008, a equipe estava sem vitórias e teve que desistir do campeonato na segunda metade daquela temporada. No ano seguinte, o Bulls começou a trazer vários jogadores estrangeiros e nós entramos na disputa por um lugar nos playoffs quase que imediatamente. O Bulls saiu do último lugar e do status de equipe incapaz de completar uma temporada para ser uma das equipes mais competitivas da liga, em um curto período de tempo, em grande parte graças aos jogadores estrangeiros. E isso também teve um efeito duradouro – a equipe Junior do Bulls ganhou campeonatos nacionais consecutivos (em grande parte, graças aos treinamentos dados pelos jogadores estrangeiros), e a equipe Sênior chegou ao Belgian Bowl em 2013, após 6 temporadas enquanto uma organização. Essa lacuna teria sido muito maior se o Bulls não tivesse trazido várias importações para elevar o nível da equipe, inclusive os jogadores locais melhoraram o nível do jogo com a oportunidade de competir contra jogadores estrangeiros durante os treinos.

E, além disso, nós também poderíamos dizer que limitar o número de jogadores estrangeiros desequilibra o balanço competitivo porque as equipes menores, que estão lutando para melhorar, não poderão ter mais contratações e terão mais dificuldades para disputar os campeonatos. A verdade é que limitar o número de jogadores importados pode distanciar ainda mais as equipes superiores e inferiores, pois limita as opções para melhorar. Às vezes o que você precisa é mudar o sistema para criar mais concorrência e ainda dar às outras equipes uma oportunidade de jogar em um nível superior.

2. “Quotas de importação permitem o desenvolvimento dos jogadores locais”

Este é o pensamento predominante e , no entanto, é categoricamente falso. Se você precisa de provas, procure saber como funciona no futebol. É grande o fluxo de importação de jogadores estrangeiros nas ligas nacionais de países como a Espanha e a Alemanha, e eles possuem alguns dos melhores clubes de futebol do mundo, no entanto, de forma alguma isso impediu o crescimento das equipes nacionais. De fato, o nível tem melhorado: a Alemanha e a Espanha têm dominado o futebol internacional e, juntos, acumularam dois campeonatos da Copa do Mundo e dois campeonatos europeus nos últimos 6 anos.

Então, porque isso? É porque eles têm proporcionado um ambiente onde os jogadores locais jogam a melhor competição do mundo sem sair do seu próprio País. Lembre-se, a melhor maneira de melhorar o seu nível de habilidade é jogar nas melhores competições. E o melhor jeito de fazer isso é trazer os melhores jogadores de futebol americano de todos os lugares do mundo para que você desafie seus jogadores locais a jogar no mais alto nível.

Além disso, vamos ser sinceros – jogadores importados não irão assim, tão fácil, constituir 100% da liga. Os melhores jogadores, de todos os países Europeus, tem talento para competir em praticamente todas as competições ao redor do mundo, e nunca será financeiramente ou comercialmente viável ter mais jogadores importados do que jogadores locais. Não estamos incentivando, de forma alguma, a ocorrência desta situação, então você não precisa se preocupar.

Além do mais, não esqueça o valor que se ganha em ter jogadores de diferentes países – existe um ganho enorme quando se cria um ambiente multicultural onde os jogadores podem aprender uns com os outros. Os nossos jogadores são diretamente beneficiados, tanto dentro quanto fora de campo.

3. “Quotas de importação evitam gastos excessivo ou até mesmo a falência”

As empresas geralmente vão à falência porque são má administradas ou não são financeiramente sustentáveis. Isso não significa que devemos limitar o quanto todas as empresas podem gastar. Muitas vezes, quando uma empresa vai à falência é até uma boa notícia porque elimina do mercado as ruins e ineficientes e permite que ele cresça de maneira suave, sem grandes problemas. Como resultado, novas organizações, mais competitivas, são estabelecidas com bases mais sólidas e melhor responsabilidade fiscal. Organizações desportivas não são diferentes – existem equipes que não conseguem se sustentar depois vários anos e são forçadas a desistir. Muitas vezes olhamos como algo lamentável, mas isso pode criar novas oportunidades para os outros times que estão à frente e são mais competitivos.

Limitar o número de jogadores que as equipes poderão pagar não vai resolver o problema das equipes que tem a base instável. Esses problemas estarão sempre lá, independentemente de pagarem nenhum ou cem jogadores. No entanto, se novas equipes entram em uma liga que tem organizações financeiramente sólidas, e que competem no mais alto nível, serão obrigadas a entrar de forma responsável e com um sistema eficiente. Limitar a importação de jogadores com base em preocupações financeiras traz mais efeitos adversos do que positivos.

4. “Apenas esportes como o futebol funcionam sem quotas de importação, porque eles têm muito dinheiro”

Isto é factualmente falso. Essas ligas esportivas são capazes de conseguir investimentos de patrocínios de marcas e corporações multinacionais, porque trazem os melhores talentos internacionais disponíveis, e não o contrário. As corporações multinacionais simplesmente não apoiam equipes amadoras – não há sequer um retorno mínimo sobre o investimento. Eles querem investir em equipes que têm uma presença internacional, que trazem grandes jogadores estrangeiros, que têm talentos locais e treinadores excepcionais, e que jogam no mais alto nível.

Da mesma forma, os fãs ficam mais ansiosos quando uma equipe está jogando em um nível altíssimo e/ou profissional. Os fãs assistem esportes por entretenimento e estão mais propensos a serem entretidos por uma competição de alto nível. O dinheiro vem das coorporaçoes e dos fãs, mas não é possível atrai-los o suficiente se não fornecemos o produto da melhor qualidade em campo.

Se algumas organizações são financeiramente superiores ao resto das equipes do campeonato, encontre algum método de tributação do montante que é gasto, não do número de jogadores que pagam. Faça a partilha das receitas, ao invés de eliminar a concorrência. Há mais oportunidades de incentivar o crescimento deste jogo inovando do que ficando estagnado.

Vamos seguir em frente. Juntos.

 

Qual é a sua opinião sobre as quotas de importação? Você acha que devemos acabar com elas ou deixar do que jeito que está? Conte pra gente na seção de comentários abaixo.