Uma Entrevista com Travis Brody

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Esta entrevista foi realizada em parceria com a FieldGoal.eu. A versão original, em espanhol, pode ser vista aqui.

 

Travis Brody é o fundador e o principal contribuidor do “The Growth of a Game” e Presidente da Premier Class Consulting (PCC), uma empresa de consultoria que facilita o progresso das organização esportivas na Europa e nos Estados Unidos. Antes de fundar a PCC, Travis foi Vice Presidente da área comercial na Sports 1 Marketing, um projeto empresarial do Warren Moon (quarterback que faz parte do Pro Hall of Fame).

Entre 2008-2010, ele jogou como quaterback para o Brussels Bulls da Belgian Football Leage (Liga de Futebol Americano da Bélgica). Durante esse tempo, Travis também treinou outros quaterbacks, receivers e kick returners no time Junior do Bulls.

Além disso, Travis foi afiliado a várias equipes na Europa sendo consultor, treinador ou jogador. Esta é uma longa lista: Calanda Broncos, Wasa Royals, Düsseldorf Panthers, Prague Black Panthers, Utrecht Dominators, Paredes CFA Lumberjacks, Warsaw Eagles, Riga Lions, Reus Imperials, e mais.

Ele ainda atua na universidade onde estudou, Occidental College em Los Angeles, trabalhando como um consultor da Occidental Athletic Department e da OSBLN (Occidental Sports Business and Law Network), uma organização que conecta alunos com ex-alunos que trabalham na indústria do esporte. Ele divide o seu tempo entre a Califórnia, Nova Iorque e a Europa, reforçando as parcerias existentes e buscando constantemente novas vias para ampliar o alcance dos seus clientes.

Um dos seus projetos atuais envolve a expansão do futebol americano na Europa, tema do seu site The Growth of a Game, onde ele compartilha uma perspectiva muito interessante sobre a situação atual deste esporte na Europa, tanto a curto como a longo prazo.

Como ex-jogador profissional com conhecimentos atualizados sobre a situação atual deste esporte nos Estados Unidos e na Europa, eu realizei uma pequena entrevista para entender a opinião de Travis sobre a situação atual e futura do nosso esporte.

Eu gostaria de aproveitar a oportunidade para agradecer ao Travis por sua cooperação e disponibilidade para concluirmos essa entrevista.

A entrevista foi realizada em Inglês e Espanhol, uma vez que Travis é fluente em Espanhol. A versão original em Espanhol pode ser lida no Field Goal.

A NFL tem tentado de várias maneiras, ao longo da sua história, melhorar a visibilidade da liga e do futebol americano na Europa. Eu estou me referindo, especificamente, à NFL Europe e à mais moderna NFL International Series. Na sua opinião, qual dessas duas fórmulas é melhor? Ou talvez devesse haver outro método para criar uma união entre as equipes americanas e europeias? Atualmente existe uma parceria entre o Oakland Raiders e o Swarco Raiders, por exemplo.

Cada uma foi efetiva a sua própria maneira. A NFL Europe, embora talvez tenha acontecido cedo demais, tentou criar um público para o futebol americano na Europa ao mesmo tempo que estabelecia uma liga para desenvolver os atletas em potencial. Ela foi eficaz em ambos objetivos, no entanto, a liga sofreu com a falta de um trabalho contínuo. Jogadores e treinadores iam e vinham, e a maioria dos jogadores ficava na NFL Europe por apenas uma temporada. Equipes em Barcelona, Londres, e Escócia foram desaparecendo e a liga se tornou praticamente um projeto que atuava exclusivamente na Alemanha, com exceção da vizinha Holanda, Amsterdam.

Por outro lado, a NFL International Series focou mais em trazer projetos de alta qualidade para um público mais amplo, o que os ajudou a vender todos os jogos, com exceção da temporada durante a NFL Lockout. Ela é muito bem-feita, de maneira muito grandiosa, quase como uma versão menor do Super Bowl. Ela conta com fan zones, cerimônias pré-jogo, shows no halftime, e assim por diante. Ela tem sido muito bem recebida e a NFL quer expandir ainda mais a sua presença em Londres. Atualmente, eles realizam 3 jogos da temporada regular, todo ano, e esse número tende a aumentar para 4 jogos em 2016. Um dos principais motivos para a NFL International Series em Londres ter sido criada foi para testar a possibilidade de estabelecer uma franquia por lá. Eu acho que já está definitivamente provado que o cenário é bastante favorável.

É ótimo ver a parceria entre o Oakland Raiders e o Swarco Raiders – é a primeira deste tipo e é realmente uma coisa muito legal para o futebol americano internacional. No entanto, eu não vejo a NFL como uma liga integralmente parceira das equipes europeias no futuro; esta não é exatamente a sua maneira de trabalhar. O objetivo claro tem sido expandir a presença da própria liga, mais do que o futebol americano em geral. É por isso que organizações, como a USA Football, surgiram – para preencher as lacunas nesta área.

No seu site, você fala sobre o longo tempo que o futebol americano precisou para se estabelecer como o esporte mais popular entre os americanos, bem como sobre o quão exponencial é o crescimento e a popularidade dentre os europeus e, que muito disso se deve às novas tecnologias, que permitem acesso às coisas, como o GamePass da NFL e exibição de jogos em alguns canais nacionais. Apesar disso, atualmente, o futebol americano não parece ser um esporte que pode ofuscar os outros mais estabelecidos na Europa como o futebol ou o basquete. Em sua opinião, e com base na situação que aconteceu na América, qual é a chave para o futebol americano deixar de ser um esporte minoritário para virar um esporte popular?

Eu penso que isso começa, antes de qualquer coisa, com a criação de um produto de qualidade. Atualmente, o futebol americano na Europa está em fase de crescimento, mas isso exige um esforço unificado e objetivo a fim de atingir um status relevante dentro do mercado europeu. Equipes e federações têm trabalhado muito, há anos, em objetivos bem definidos e no que querem para o futebol americano em seus respectivos países. E é por isso que o The Growth of a Game existe. Estamos unidos em defesa do futebol americano sob uma causa comum: elevar o nível do jogo na Europa até o ponto em que ele poderá competir com qualquer país do mundo.

Agora que nós temos um objetivo bem definido, o próximo passo é melhorar o profissionalismo e a viabilidade financeira dos clubes e federação em toda a Europa. É aí que a nossa empresa de consultoria, Premier Class Consulting, entra. Nós ajudamos as equipes e ligas a se tornarem empresas sustentáveis e implantar novos modelos de lucro, enquanto criamos uma estrutura de gestão organizada, responsável e eficiente.

A partir daí, o próximo passo é identificar e remover os regulamentos que impedem o crescimento do esporte. Em alguns países, o caráter amador é obrigatório. Em outros, é imposta uma limitação de jogadores estrangeiros. Para competir com um esporte como o futebol, temos que começar a nos levar mais a sério.

"Travis Brody jogando para o Brussels Bulls em 2010 (Foto cedida por Gary Dibble)"

Travis Brody jogando para o Brussels Bulls em 2010 (Foto cedida por Gary Dibble)

Você tem experiência como jogador e treinador na Belgian Football League (BFL). O que você tem a dizer sobre o futebol americano na Bélgica, o nível do jogo e a organização da liga, e seu crescimento nos últimos anos?

A liga na Bélgica é cheia de jogadores talentosos e dedicados, no entanto sofre de uma falta de esforço sustentável e unificado. Como é uma nação dividida linguisticamente, eles fazem muito esforço para identificar o que têm de diferente entre si ao invés de reconhecer as coisas em comum. Por esta razão, a Bélgica tem hesitado em trabalhar com duas divisões e, em vez disso, optou por manter o formato com uma divisão, sendo duas conferências naturalmente divididas pela linguagem. O problema que isto apresenta é que em uma liga com 18 equipes há apenas 3 ou 4 que podem competir pelo campeonato nacional toda temporada. Novas equipes surgem frequentemente, mas eles têm muitas dificuldades para competir com as melhores equipes e muitas vezes acabam por encerrar suas atividades. O campeonato seria melhor se trabalhasse com o formato de duas divisões, pois iria amenizar os desafios das novas equipes e lhes daria uma chance de competir contra uma concorrência similar. A Bélgica, sem dúvida, vai chegar lá, pois ela conta com muitas pessoas inteligentes e dedicadas envolvidas com o futebol americano.

A competição conhecida como BIG6 reúne vários clubes europeus de elite. A liga surgiu em 2014 e se estendeu até pelo 2016. Os clubes são convidados a competir na liga, além de já competirem em seus campeonatos nacionais. Esta poderia ser a semente de uma futura liga de futebol americano profissional da Europa? Se sim, você acredita que as equipes podem competir em duas ligas de alto nível, tais como a GFL e a BIG6?

O BIG6 é um bom passo na direção certa. Se ele puder alcançar uma sustentabilidade, eu penso que ele certamente pode mudar o panorama do futebol americano na Europa. Eu acredito que algumas equipes têm a capacidade de jogar em ambas as competições – as respectivas ligas nacionais e o BIG6 – entretanto precisam ter muito cuidado para não forçar demais as coisas devido aos riscos de lesões. O Prague Black Panthers jogaram duas partidas em um único dia no ano passado, e venceram as duas. Embora isso seja incrivelmente impressionante, coloca os jogadores em risco desnecessário. A segurança no nosso esporte não pode ser menosprezada. A liga austríaca faz um trabalho muito bom nesse aspecto, as equipes jogam 8 partidas por temporada e tem flexibilidade suficiente que permite que as equipes participem de competições internacionais.

Vamos abordar a questão dos jogadores americanos. Alguns países proíbem a participação desses, enquanto outros impõem quotas. Qual é a sua opinião sobre este assunto? Que política deve ser implementada para aumentar o nível do futebol americano europeu e ao mesmo tempo permitir que os jogadores locais tenham acesso aos times?

Eu sou absolutamente a favor da aplicação de uma regulamentação apropriada no futebol americano. Dito isso, eu sou completamente contra as regras que inibem o crescimento do esporte. Alguns países, como os Estados Unidos, instituíram tanto uma liga amadora quanto uma profissional, representadas pela NCAA college football e pela NFL, respectivamente. Entretanto, se você quer ser levado a sério enquanto uma organização profissional você tem que trazer jogadores estrangeiros. Colocando um limite na quantidade desses jogadores, pode estar limitando a qualidade do jogo na liga e priva os jogadores locais de competir contra os melhores talentos do mundo. Alguns têm a preocupação de que com a eliminação dessas quotas as equipas europeias ficarão repletos de jogadores americanos de repetente, mas não há motivo para essa preocupação. Nunca vai ser comercial ou financeiramente viável preencher toda uma equipe europeia com jogadores norte-americanos, de modo que isso não representa uma ameaça. Além disso, se o nível do jogo na liga aumenta, o mesmo acontece com o nível dos jogadores locais. Por último, o nível do jogo entre os jogadores nacionais se espelhará nos jogadores estrangeiros e logo um balanço apropriado começará a tomar forma. Eu acredito que as quotas de importação de jogadores é um dos maiores inibidores do futebol americano na Europa. Quanto antes isso for eliminado, mais rápido o esporte vai crescer. Só é preciso ver a primeira liga corajosa o suficiente para implementar esta política e as demais irão seguir depois, sem dúvidas!

No seu site você fala sobre atrair patrocinadores para o futebol americano. Você identificou como é mais eficiente para qualquer empresa atrair maior visibilidade com um menor investimento no futebol americano, ao invés do investimento em outro esporte como o futebol. Você também mencionou que a fim de atrair mais patrocinadores, uma equipe precisa ser profissional e criar uma experiência única para qualquer pessoa que venha assistir um jogo. Quais são as chaves para alcançar estes objetivos?

As pessoas só vão te levar a sério se você se levar a sério, então o seu primeiro passo precisa ser estabelecer uma organização profissional. Isso significa fazer todas as pequenas coisas corretamente, delegando responsabilidades para as pessoas certas, sendo responsáveis por suas ações, e provando que a sua organização é financeiramente responsável. O próximo passo é destacar as características interessantes do futebol americano. Enfatize coisas como: a mentalidade da equipe vem em primeiro lugar, a natureza estratégica do jogo, o ritmo e a intensidade do jogo, o ambiente inclusivo que é proporcionado, os valores que são promovidos (obstinação, trabalho em equipe, compromisso, união, força, etc.). Por último, as equipes precisam se diferenciar dos seus concorrentes. Talvez você tenha um jogador local ou estrangeiro muito talentoso, talvez você esteja muito focado em seu projeto com os jogadores jovens, ou talvez você atraia um grande número de expectadores nos seus jogos. Qualquer que seja o seu ponto forte, identifique-o e explore-o.

Quando surgiu a ideia de se envolver com o fomento do futebol americano na Europa?

A ideia surgiu enquanto eu estava trabalhando para o Warren Moon, um dos maiores quaterbacks que já existiu e membro do Pro Football Hall of Fame. Eu queria utilizar o conhecimento e a experiência que eu adquiri trabalhando com esporte e entretenimento, bem como o tempo que passei jogando e sendo treinador de futebol americano na Europa, para contribuir com o crescimento desse esporte de alguma maneira. Ter jogado e vivido na Europa teve um impacto muito profundo em mim e me fez ser o homem que sou hoje, e eu queria ajudar a ser um fator no aumento do nível do jogo aqui e dar mais visibilidade para o nosso grande esporte.

No momento você está escrevendo um livro sobre o crescimento do futebol americano na Europa, que você planeja publicar em 2017. Você pode nos adiantar alguma coisa do que iremos encontrar no livro?

Sem me expender muito, o livro é focado no passado, presente e futuro do futebol americano na Europa, com maior ênfase nesses dois últimos elementos. Muito dele será dedicado ao estado atual do esporte e haverá muitas histórias incrivelmente interessantes. Todo país europeu que joga futebol americano vai ter algum envolvimento com o livro. Eu estou ansioso para compartilhar esta história com o mundo.